Herói
português ainda espera Justiça
Por Richard Zimler, in The Jewish Chronicle
Decorrido
muito tempo após a morte de um capitão do exército português, que
foi humilhado e perseguido por ter tentado restabelecer a comunidade
judaica do país, há muito desaparecida, a sua neta continua a lutar
pela sua reabilitação.
Tendo
descoberto, no início da sua vida, que era descendente de uma
família judia, Artur Barros Basto acabaria por fundar, depois de
1920, uma yeshivá, um jornal comunitário e uma sinagoga no Porto.
Todavia,
na década de 1930, em resposta à sua campanha, o governo fascista
de Portugal condenou-o
por ter participado em cerimónias de circuncisão, já depois de o
ter investigado por falsas acusações de homossexualidade. Barros
Basto foi despojado das suas insígnias militares e viu revogada a
pensão a que teria direito.
Barros
Basto nunca recuperou de tão grande humilhação pública. O seu
movimento, tendente a reavivar a comunidade
judaica do país, enfraqueceu, perdeu o apoio organizado e
afundou-se; e ele próprio acabaria por morrer em 1961, quase
completamente esquecido pelo público, após muitos anos de
dificuldades financeiras e desgostos emocionais.
A
neta de Barros Basto, Isabel Ferreira Lopes, que há muitos anos tem
lutado pela reabilitação do avô, apresentou recentemente um novo
pedido ao parlamento português. As
tentativas anteriores falharam.
Um
pedido formal apresentado pela esposa de Barros Basto, Lea Azancot,
em 1975 - logo após o estabelecimento da democracia em Portugal -
foi negado pelo exército.
«Na
minha família, estamos todos muito orgulhosos do meu avô»,
diz Isabel. «A
reabilitação do seu nome - se acontecer - significa vencer uma
batalha que decorre há três gerações: a geração da minha avó,
a geração da minha mãe, e a minha geração. Significa uma mínima
compensação pelo sofrimento imenso do meu avô. O nosso amor por
ele conseguiu restabelecer a Justiça.»
Depois
de ter sido distinguido na Primeira Guerra Mundial por cumprir
heroicamente o seu dever, Barros Basto regressou a Portugal e começou
a estudar o idioma hebraico e a prática judaica. Ele estabeleceu-se,
com a esposa, no Porto, onde instituiu uma comunidade
judaica. Já não existia nenhuma comunidade judaica naquela cidade há 400 anos.
Na
década de 1920, praticamente não existiam judeus praticantes em
Portugal. Toda
a comunidade judaica havia sido forçada a converter-se ao
catolicismo, no final do século XV da Era comum, e depois tinha sido
perseguida pela Inquisição, até ao final do século XVIII, por
praticar o judaísmo em segredo.
No
final da década de 1930, os sucessos de Barros Basto no reavivamento
da
comunidade judaica portuguesa fizeram com que ele fosse vítima do
anti-semitismo latente na ditadura do país, que organizou a sua
humilhação pública e a sua separação do serviço militar.
(Traduzido do inglês por José Sampaio)
(Traduzido do inglês por José Sampaio)