quinta-feira, 22 de dezembro de 2011







Herói português ainda espera Justiça

Por Richard Zimler, in The Jewish Chronicle

Decorrido muito tempo após a morte de um capitão do exército português, que foi humilhado e perseguido por ter tentado restabelecer a comunidade judaica do país, há muito desaparecida, a sua neta continua a lutar pela sua reabilitação.   
Tendo descoberto, no início da sua vida, que era descendente de uma família judia, Artur Barros Basto acabaria por fundar, depois de 1920, uma yeshivá, um jornal comunitário e uma sinagoga no Porto.
Todavia, na década de 1930, em resposta à sua campanha, o governo fascista de Portugal condenou-o por ter participado em cerimónias de circuncisão, já depois de o ter investigado por falsas acusações de homossexualidade. Barros Basto foi despojado das suas insígnias militares e viu revogada a pensão a que teria direito.
Barros Basto nunca recuperou de tão grande humilhação pública. O seu movimento, tendente a reavivar a comunidade judaica do país, enfraqueceu, perdeu o apoio organizado e afundou-se; e ele próprio acabaria por morrer em 1961, quase completamente esquecido pelo público, após muitos anos de dificuldades financeiras e desgostos emocionais.
A neta de Barros Basto, Isabel Ferreira Lopes, que há muitos anos tem lutado pela reabilitação do avô, apresentou recentemente um novo pedido ao parlamento português. As tentativas anteriores falharam.
Um pedido formal apresentado pela esposa de Barros Basto, Lea Azancot, em 1975 - logo após o estabelecimento da democracia em Portugal - foi negado pelo exército.
«Na minha família, estamos todos muito orgulhosos do meu avô», diz Isabel. «A reabilitação do seu nome - se acontecer - significa vencer uma batalha que decorre há três gerações: a geração da minha avó, a geração da minha mãe, e a minha geração. Significa uma mínima compensação pelo sofrimento imenso do meu avô. O nosso amor por ele conseguiu restabelecer a Justiça.»
Depois de ter sido distinguido na Primeira Guerra Mundial por cumprir heroicamente o seu dever, Barros Basto regressou a Portugal e começou a estudar o idioma hebraico e a prática judaica. Ele estabeleceu-se, com a esposa, no Porto, onde instituiu uma comunidade judaica. Já não existia nenhuma comunidade judaica naquela cidade há 400 anos.
Na década de 1920, praticamente não existiam judeus praticantes em Portugal. Toda a comunidade judaica havia sido forçada a converter-se ao catolicismo, no final do século XV da Era comum, e depois tinha sido perseguida pela Inquisição, até ao final do século XVIII, por praticar o judaísmo em segredo.
No final da década de 1930, os sucessos de Barros Basto no reavivamento da comunidade judaica portuguesa fizeram com que ele fosse vítima do anti-semitismo latente na ditadura do país, que organizou a sua humilhação pública e a sua separação do serviço militar. 


(Traduzido do inglês por José Sampaio)