domingo, 4 de março de 2012


 iJN  01-03-2012


PARLAMENTO REABILITA MILITAR JUDEU

O Parlamento reabilitou ontem, por unanimidade, o nome do capitão Barros Basto, um oficial judeu separado do exército em 1937 por alegada “imoralidade”! O seu “crime” foi a participação nas cerimónias de circuncisão dos alunos do instituto israelita do Porto.

No parecer da Comissão, a que o JN teve acesso, a decisão de 1937 foi tomada em “manifesta violação da liberdade de religião e de culto” e terá tido origem na “intolerância religiosa e um preconceito anti-semita” que reinava na época. A tal ponto que o Exército considerou a circuncisão, tradição religiosa dos judeus, como atentória à “moralidade” do oficial Barros Basto, mas pior ainda, do “prestígio e decoro da sua farda”.
Descendente de judeus convertidos coercivamente ao cristianismo, Barros Basto retornou à fé dos seus antepassados e criou um instituto teológico israelita na cidade Porto. A partir daí lançou-se numa campanha cujo objectivo era persuadir outros, como ele, a regressarem, sem medo, ao judaísmo. Esta conduta foi muito mal encarada pelas autoridades da época – o antissemitismo atingia o seu auge – pelo que, sem grande surpresa, Barros Basto foi afastado do exército. Sem direito a nada. Nem reforma, nem tão pouco a exercer outra actividade. Acabou na miséria.
75 Anos depois o Parlamento reconhece que “Barros Basto foi separado do exército devido a um clima genérico de animosidade contra si motivado pelo facto de ser judeu, de não o encobrir, e, pelo contrário, de ostentar um proselitismo enérgico convertendo judeus portugueses marranos e seus descendentes”. E reabilita-o, embora postumamente.
Feliz com “esta boa nova” do parlamento, “há muito esperadas”, mostra-se a neta de Barros Basto, dirigente da comunidade israelita do Porto, que o avô fundou. Ao JN Isabel Ferreira Lopes afirmou a sua “gratidão” pelo facto de “a Comissão mais importante do Parlamento ter reconhecido hoje, formalmente, que o meu avô não foi imoral”. E acrescentou que “imoral foi, essa sim, a decisão que o condenou, votando-o deliberadamente à desconsideração na sua própria terra ”.
O caso Barros Basto não se esgotou ainda. Ao JN, Rui da Silva Leal, advogado da neta do capitão, e representante da Ordem dos Advogados na última unidade de reforma penal, diz que “o parlamento deve agora saber retirar as consequências práticas da decisão da 1.ª Comissão, porque a justiça só ficará integralmente reposta no dia em que, através de uma resolução, a Assembleia da República decretar a reintegração póstuma do senhor capitão no exército.”
O processo de reintegração de Barros Basto no exército está a cargo da Comissão de Defesa Nacional, que se deve pronunciar sobre o assunto durante o próximo mês de Abril.


Sem comentários:

Enviar um comentário