in JN 01-03-2012
PARLAMENTO REABILITA MILITAR JUDEU
PARLAMENTO REABILITA MILITAR JUDEU
O Parlamento reabilitou ontem,
por unanimidade, o nome do capitão Barros Basto, um oficial judeu separado do
exército em 1937 por alegada “imoralidade”! O seu “crime” foi a participação
nas cerimónias de circuncisão dos alunos do instituto israelita do Porto.
No parecer da Comissão, a que o JN teve acesso, a decisão de
1937 foi tomada em “manifesta violação da liberdade de religião e de culto” e
terá tido origem na “intolerância religiosa e um preconceito anti-semita” que
reinava na época. A tal ponto que o Exército considerou a circuncisão, tradição
religiosa dos judeus, como atentória à “moralidade” do oficial Barros Basto,
mas pior ainda, do “prestígio e decoro da sua farda”.
Descendente de judeus convertidos coercivamente ao cristianismo,
Barros Basto retornou à fé dos seus antepassados e criou um instituto teológico
israelita na cidade Porto. A partir daí lançou-se numa campanha cujo objectivo
era persuadir outros, como ele, a regressarem, sem medo, ao judaísmo. Esta
conduta foi muito mal encarada pelas autoridades da época – o antissemitismo
atingia o seu auge – pelo que, sem grande surpresa, Barros Basto foi afastado
do exército. Sem direito a nada. Nem reforma, nem tão pouco a exercer outra
actividade. Acabou na miséria.
75 Anos depois o Parlamento reconhece que “Barros Basto foi
separado do exército devido a um clima genérico de animosidade contra si
motivado pelo facto de ser judeu, de não o encobrir, e, pelo contrário, de
ostentar um proselitismo enérgico convertendo judeus portugueses marranos e
seus descendentes”. E reabilita-o, embora postumamente.
Feliz com “esta boa nova” do parlamento, “há muito esperadas”,
mostra-se a neta de Barros Basto, dirigente da comunidade israelita do Porto, que
o avô fundou. Ao JN Isabel Ferreira Lopes afirmou a sua “gratidão” pelo facto
de “a Comissão mais importante do Parlamento ter reconhecido hoje, formalmente,
que o meu avô não foi imoral”. E acrescentou que “imoral foi, essa sim, a
decisão que o condenou, votando-o deliberadamente à desconsideração na sua
própria terra ”.
O caso Barros Basto não se esgotou ainda. Ao JN, Rui da
Silva Leal, advogado da neta do capitão, e representante da Ordem dos Advogados
na última unidade de reforma penal, diz que “o parlamento deve agora saber retirar
as consequências práticas da decisão da 1.ª Comissão, porque a justiça só
ficará integralmente reposta no dia em que, através de uma resolução, a
Assembleia da República decretar a reintegração póstuma do senhor capitão no
exército.”
O processo de reintegração de Barros Basto no exército está a cargo da Comissão de Defesa Nacional, que se deve pronunciar sobre o assunto
durante o próximo mês de Abril.
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