sábado, 10 de março de 2012


Público, 01 de Março de 2012

“Dreyfus português” reabilitado no Parlamento

“Um dia será feita justiça, a verdade virá ao de cima.” Isabel Ferreira Lopes lembra a frase que o avô, o capitão Barros Basto, um judeu expulso do exército em 1937 por actos relacionados com a religião, repetiu vezes sem conta. O dia, para a família, chegou ontem, 75 anos depois.
A Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República (AR) considerou que o Estado português deve reintegrar postumamente no exército o capitão – apontado como o caso “Dreyfus português”- face a “uma manifesta violação da liberdade de religião e culto”.
“Finalmente foi feita justiça. O nome do meu avô foi reabilitado”, disse ao Público a neta, emocionada com a decisão.
Barros Basto foi punido por afectar a “respeitabilidade e o decoro militar” ao fazer a circuncisão a vários alunos do Instituto Teológico Israelita do Porto, do qual era Director .
“O meu avô ficou sem emprego e sem meios para sobreviver aos 50 anos”, diz Isabel. Morreu aos 74 anos “pobre e amargurado”, mas com a esperança de um dia ser reabilitado.
Para a Comissão parlamentar, a decisão de 1937 foi “motivada por intolerância religiosa e por preconceito anti-semita”, dominante na época.
“Barros Basto foi separado do exército devido a um clima genérico de animosidade contra si motivado pelo facto de ser judeu, de não o encobrir, e, pelo contrário, de ostentar um proselitismo enérgico convertendo judeus portugueses marranos e seus descendentes”, refere a Comissão.

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