Público, 01 de Março de 2012
“Dreyfus português”
reabilitado no Parlamento
“Um dia será feita justiça, a verdade virá ao de cima.”
Isabel Ferreira Lopes lembra a frase que o avô, o capitão Barros Basto, um
judeu expulso do exército em 1937 por actos relacionados com a religião,
repetiu vezes sem conta. O dia, para a família, chegou ontem, 75 anos depois.
A Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades
e Garantias da Assembleia da República (AR) considerou que o Estado português
deve reintegrar postumamente no exército o capitão – apontado como o caso
“Dreyfus português”- face a “uma manifesta violação da liberdade de religião e
culto”.
“Finalmente foi feita justiça. O nome do meu avô foi
reabilitado”, disse ao Público a neta, emocionada com a decisão.
Barros Basto foi punido por afectar a “respeitabilidade e o
decoro militar” ao fazer a circuncisão a vários alunos do Instituto Teológico
Israelita do Porto, do qual era Director .
“O meu avô ficou sem emprego e sem meios para sobreviver aos
50 anos”, diz Isabel. Morreu aos 74 anos “pobre e amargurado”, mas com a
esperança de um dia ser reabilitado.
Para a Comissão parlamentar, a decisão de 1937 foi “motivada
por intolerância religiosa e por preconceito anti-semita”, dominante na época.
“Barros Basto foi separado do exército devido a um clima
genérico de animosidade contra si motivado pelo facto de ser judeu, de não o
encobrir, e, pelo contrário, de ostentar um proselitismo enérgico convertendo
judeus portugueses marranos e seus descendentes”, refere a Comissão.
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